A linha e eu
Quando eu tinha por volta de sete anos comecei a prestar atenção a minha mãe fazendo tricô e como boa curiosa insisti em aprender. Nunca fiz grandes trabalhos com isso, aprendi o básico para saciar a minha curiosidade infantil e deixei de lado por muitos anos, mas é como dizem, quando aprendemos uma coisa com o coração a gente nunca esquece.
Anos depois, já adolescente, vi a mãe de uma amiga fazendo ponto de cruz com tanta calma e concentração que meu desejo por aprender despertou novamente, minha amiga até estranhou pois eu passei a frenquentar a casa para ficar com a mãe dela por horas a fio, até que aprendi.
Me casei, engravidei, e quando minha filha nasceu todo o enxoval foi decorado por mim em tricô e ponto cruz. Depois disso foram alguns anos sem tocar nas agulhas pela correria da vida.
13 anos se passaram, eu engravidei novamente e por coincidência ou sincronicidade, como queira chamar, me tornei vizinha daquela senhora novamente, mas agora eramos um trio a tecer o enxoval, ela, minha filha e eu. Meu filho nasceu, e as agulhas voltaram para a gaveta.
Recentemente eu aprendi crochet, dessa vez sozinha, por tutoriais de vídeo, estico a linha pela casa e começo ponto a ponto. Certa vez meu filho que hoje tem 7 anos, me perguntou porque eu espalhava a linha pela casa toda. Primeiro eu tentei dizer que era a minha meta do dia crochetar toda aquela linha solta e ele aceitou essa explicação, que de fato é verdade, mas no mais profundo do meu coração é que aquela linha espalhada me lembra do precioso tempo que passei enquanto aprendia, dos laços que se fortaleciam a cada ponto dado, a conversa tecendo vínculos, e compartilhava sabedoria.
Essa senhora infelizmente já faleceu. A cada linha que estico pela casa e ao terminar o trabalho, espero honrar os ensinamentos e estima que recebi, que tanto ela quanto a minha mãe (que ainda está ao meu lado) se sintam orgulhosas desse pequeno legado.
Não é a toa que uma lenda japonesa conta que somos interligados por uma linha, que todos aqueles destinados a fazer parte da nossa vida em algum momento trança ou se amarra a nossa com o intuito de nos tornar aprendizes ou mestres, de dar e receber o pouco ou muito que somos e sermos melhores.
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