A SANGUE FRIO...

 

Mais uma manhã que acordo envolta em sangue, o sol que adentra a janela  aumenta o cheiro de ferro que invade as minhas narinas e me arranca da sonolência. Ao menos desta vez não expeli o meu jantar, algo a menos para limpar.

Retiro lençóis, travesseiros, tudo o que carrega o escarlate da minha fraqueza. Lavo, esfrego, desinfeto eliminando os vestígios da minha loucura. As lágrimas caindo pelo que ceifei ou pelo cloro.

No quintal faço uma cova, nem tão profunda para que me esqueça, mas nem tão rasa para que me perturbe, tal qual as outras espalho cal para evitar o mau cheiro e por fim deposito meu mais novo delito. Uma ultima vista aos olhos sem vida, a boca finalmente silenciada, ao coração perfurado, ao corpo inerte.

Sem choro, velas, sem testemunhas, flores ou adeus, apenas o silêncio coberto com terra vermelha.


Sem condenação ou perdão, virei as costas e segui.  

Deplorável, imunda de sangue seco e terra tentei sorrir, mas não pude. Após o banho, penteada e perfumada, depois de queimar as roupas sujas, fiz um juramento.

"Nunca mais eu matarei uma parte de mim".


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